domingo, janeiro 28, 2007

Por um país onde escolher não seja crime

Muito se tem ouvido e falado sobre a Interrupção Voluntária da Gravidez. É certo, uma questão fracturante e que se eleva muito acima do poder de influência das opções políticas e também das crenças religiosas.
É importante que na discussão, de todo o modo salutar, que devemos fazer sobre este tema, não façamos a introdução de argumentos falaciosos e que têm como único objectivo induzir em erro os portugueses um pouco menos esclarecidos. Numa decisão importante como esta a nossa obrigação é informar e esclarecer os portugueses com argumentos válidos para que aos portugueses seja facultada uma opção de escolha em consciência.
Quero começar por dizer que ninguém, em sã consciência pode defender a prática abortiva. O acto, em si, é suficientemente sofredor para quem o realiza. Os números falam por isso, 75,7% das mulheres portuguesas que revelaram ter optado por abortar ilegalmente dizem que a sua decisão foi muitíssimo difícil ou muito difícil, conforme o estudo realizado pela Associação para o Planeamento da Família. Por outro lado, não estamos perante uma liberalização da interrupção voluntária da gravidez. Pretende-se criar sim, uma nova excepção, a juntar às actuais três, que delimita até às 10 semanas, um período em que a mulher pode optar entre levar até ao fim ou não a sua gravidez.
Sabemos, pois, antecipadamente que esta prática não terminará com a imposição da lei. Sabemos que esta prática continuará a ser feita, de forma ilegal, tardia e sem condições higiénico-sanitárias, sabemos que não é com a perseguição e com a invasão da privacidade que o aborto clandestino terminará e sabemos que o aborto clandestino sobrevive à custa do sofrimento de milhares de mulheres atiradas para as redes de aborto clandestino. Esta lei está actualmente errada, porque não defende a vida que realmente existe, esta lei não defende a mulher.
Ora vejamos, em Portugal, 360 mil mulheres entre os 18 e os 49 anos já abortaram clandestinamente, delas, 34% não fizeram qualquer exame médico prévio, 64% não teve nenhum acompanhamento médico posterior e das mulheres que têm complicações após o aborto, 27% tiveram que ser internadas. Mais, 70% das mulheres que abortaram não receberam informação sobre contracepção, mas acima de tudo, e mais preocupante ainda, 54% dos abortos são feitos entre os 13 e os 24 anos.
Se olharmos com a atenção que estes números nos merecem, esta lei claramente coloca em risco a vida e a saúde das mulheres, esta lei impede a prevenção de abortos no futuro e em particular, esta lei prejudica as mais jovens e mais desfavorecidas.
Como estamos, cada dia que passa só andamos para trás em matéria de saúde pública e de defesa da vida. O dia-a-dia só nos traz um agravamento dos problemas que o aborto clandestino provoca, tais como: a mentira entre a mulher os técnicos de saúde, a condução a diagnósticos falsos para não criminalização da mulher, a condução à ignorância e à tardia aplicação de medidas de combate ao falhanço de políticas de planeamento familiar e de redução de gravidezes indesejadas, o impedimento à identificação de casos concretos de complicações do aborto clandestino e impede que à grávida seja prestado apoio social e a eventual mudança de opinião, como acontece na Holanda, em que o acompanhamento que é dado à grávida tem conduzido a que a mulher chegue a optar por não realizar o aborto.
Esta é a realidade do aborto clandestino em Portugal. Enfiarmos a cabeça na areia não nos serve de nada. Estes números têm rosto. Cada um representa um problema e uma história que aqui e ali sensibilizam os que com elas têm mais contacto.
Por todos estes 360 mil motivos, dia 11, voto Sim.


Tiago Gonçalves
Coordenador Concelhio da JS de Peniche
Secretário Federativo Distrital de Leiria da JS e do PS

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