sábado, fevereiro 24, 2007

Pós Referendo

Está finalizada a primeira fase, ou seja, está legitimada democraticamente a nossa vontade, a legalização da IVG. Contudo ainda não está finalizado o nosso papel. Uma vez votada a proposta e ganha a aposta, o nosso trabalho não se esgota. Inicia-se agora uma nova fase, que irá até à data da publicação em D.R. dos trâmites legais da IVG, iniciando-se logo de seguida a terceira e última fase, que terá como desígnios a implantação de uma verdadeira Educação Sexual em todas as escolas e a "banalização" das questões que se prendem com os aspectos reprodutivos & sexuais dentro da sociedade portuguesa.
Teremos um papel importante até à aprovação final da legislação que regulamentará a IVG. Caberá a nós garantir que de facto a IVG será realizada nos "moldes" por nós defendidos durante a campanha, de modo a garantir a confiança de todos os votantes no "Sim".
Como dizia hoje o nosso Secretário-Geral, "no dia 12 de Fevereiro respirava-se outro ar em Portugal", de facto assim é. Somos um país diferente, somos um país mais justo, mais digno e fundamentalmente um país mais consciente dos seus problemas e elucidado das formas claras e objectivas de resolver esses mesmos problemas.
Respiramos agora o "ar" que outros países (mais desenvolvidos) respiram, não somos mais aquele "cantinho da europa" em que as mulheres são humilhadas e ignoradas pelo Estado; demos um passo no sentido de "apanharmos o pelotão da frente".
Tudo isto se deve em grande parte aos jovens. Neste referendo ao invés dos anteriores os jovens tiveram um papel decisivo e determinante, foram eles os principais responsáveis por este passo em frente; a sua quota de responsabilidade neste referendo não se restringe ao acto de votar, engloba também, e aqui com bastante mérito da JS, a campanha realizada, onde determinantemente a JS cedo definiu as suas áreas de actuação e o resultado está à vista, desde a dinâmica do movimento "Jovens Pelo Sim" ao empenho de todos os militantes e dirigentes Socialistas.
Este referendo ficará na história como a imagem da dinâmica jovem e de todo o poder que lhe é inerente. Será mote de futuras batalhas, pois nunca nos poderemos esquecer, que enquanto jovens e "família" temos um poder incalculável e que temos a obrigação de o usar enquanto Esquerda, e enquanto cidadãos empenhados em construir uma sociedade à nossa imagem, uma sociedade mais justa e igual portanto.

Nuno Cordeiro
Secretário Federativo JS Leiria

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Conseguimos!

Conseguimos!

[melhor, Portugal conseguiu]
Que seja cumprida a nossa vontade. Que o Sim seja respeitado. Pois agora o nosso estado pode dar resposta e pôr termo a um grave problema, o Aborto Clandestino.

No entanto, alguma revolta me assalta agora. Tenho a convicção que esta mudança surge tarde, tenho a convicção que se perderam vidas desesperadamente em vão, é certo que de dentro em breve esta situação não será mais realidade, pelo menos nos mesmos moldes que até hoje tomou, mas sinto pena, pena de todas aquelas mulheres e famílias que conviveram com esta dura realidade, a de abortar na clandestinidade.

O referendo possibilitou um alívio generalizado, uma oportunidade a ser criada a todas as mulheres conscientes da sua situação. Porém muita gente foi cobarde. Muitos quiseram dizer Não! A estas mulheres, muitos lhes quiseram negar direitos fundamentais, muitos as quiseram escorraçar, atirando-as para a clandestinidade, mas felizmente houve um número maior de cidadãos conscientes da realidade que quiseram fazer valer a sua opinião, esses estão de parabéns, [e que seja cumprida a sua vontade].

Contudo, e mais uma vez, falhámos enquanto democracia. A alta taxa de abstenção facilita esta leitura; algo de errado se passa, nota-se alguma incompatibilidade entre o actual regime e o povo, quando é chegada a vez de decidir, o povo prefere calar-se, a mostrar-se, e decidir o que pretende para o seu futuro.

Termino com um voto de esperança para todas as mulheres que por infelicidade da vida e do destino ver-se-ão obrigadas a recorrer à IVG, contudo, agora saberão que terão um tratamento digno, serão respeitadas e não discriminadas, ao invés do que aconteceu com muitos milhares de mulheres. Obrigado e Esperança no Futuro!



Nuno Cordeiro
Secretário Federativo JS Leiria

quinta-feira, fevereiro 08, 2007

No Domingo.

Porquê?...Porquê votar no referendo de 11 de Fevereiro?...votar sim ou não? Há partida parece ser esta a questão, mas não sejamos redutores, porque mais que uma cruz no não, no sim ou um voto em branco, está em causa o simples facto de VOTAR, esse é um dever, uma obrigação, enfim um imperativo democratico da sociedade que erguemos. Não votar colocará em causa muitas das coisas pelo qual sempre pugnamos e devemos continuar a defender, mas caberá depois perguntar para que serve então a democracia directa, representada por um referendo quando mais de metade do eleitorado se abstém; Que fundamento existirá para a sua defesa. Mais do que falta de interesse, caso seja essa a menssagem que pretendam passar, o que evidentemente estará em causa é a democracia, é um sistema e um regime politico que se fundamenta em determinados valores.
Por isso dia 11 de Fevereiro é preciso acima de tudo ir votar, pois é este o maior poder que os cidadãos têm para legislar e para exercer uma determinada orientação que deverá ser obrigatória para o poder executivo.
Sendo a Democracia o mais incompleto sistema politico, mas sempre em permanente mutação, cabe nós cidadãos fazer com que esse sistema funcione, cresça e se desenvolva no sentido do seu aperfeiçoamento


Rui Zeferino

domingo, fevereiro 04, 2007

Abstenção

Há oito anos, 70 por cento preferiram ficar em casa

Mais de 70 por cento dos eleitores do distrito de Leiria e concelho de Ourém ficaram “em casa” há oito anos quando foram chamados a pronunciar-se sobre a despenalização da interrupção voluntária da gravidez até às dez primeiras semanas.
A abstenção venceu tanto em Leiria como no resto do país. E dos que votaram, a maioria - 50,8 por cento – votou contra. Contribuíram para este resultado os “nãos” contabilizados em Alcobaça, Alvaiázere, Ansião, Batalha, Bombarral, Figueiró dos Vinhos, Leiria, Ourém, Pedrógão Grande, Pombal e Porto de Mós. Com Alvaiázere a ocupar o primeiro lugar, depois de 77 por cento dos votantes terem votado contra a despenalização.
O “sim” venceu em contrapartida em Caldas da Rainha, Castanheira de Pêra, Marinha Grande, Nazaré, Óbidos e Peniche. E foi na Marinha Grande que conseguiu maior expressão, depois de registar 81 por cento dos boletins de votos a favor. E enquanto o concelho de Pedrógão Grande registou a maior taxa de abstenção na região ao atingir 80 por cento, a Batalha obteve a maior participação dos eleitores: “apenas” 65 por cento alhearam-se do referendo.Nem a hipótese de votar “nim” (em branco) convenceu o eleitorado a ir às urnas.
A realização do referendo a 28 de Junho, tempo de férias e de praia para muitos portugueses, terá pesado neste resultado. Dados recolhidos à época atestam que não houve uma freguesia do total de 148 no distrito em que a abstenção tenha sido inferior a 50 por cento. Dos 365.784 eleitores inscritos no distrito, apenas 107.541 manifestaram a sua posição sobre a despenalização do aborto, por opção da mulher, nas dez primeiras semanas, em estabelecimento de saúde legalmente autorizados: 54.612 disseram “não” e 50.939 votaram “sim”.A mesma pergunta volta a ser submetida a sufrágio no próximo dia 11 de Fevereiro. No distrito, estão inscritos 387.112 eleitores, mais 21.328 do que em 1998.Já a nível nacional, serão chamados a pronunciar-se 8.792.880 eleitores, mais 304.454 do que no referendo de há oito anos.

in Região de Leiria ed. 3646, 02 de Fevereiro de 2007
Dia 11, como será? Manter-se-á a dinâmica conservadora do distrito inalterável??
Nuno Cordeiro
Secretário Federativo JS Leiria

Grande Entrevista - Alexandre Quintanilha


Ciência e Religião sem respostas claras sobre o aborto, afirma Alexandre Quintanilha

O cientista Alexandre Quintanilha considerou hoje que "nem a Ciência, nem a Religião" têm "respostas claras para o debate sobre o aborto", situando-o no plano das "convicções".

Físico e biólogo, Alexandre Quintanilha é director do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) do Porto e foi o convidado de hoje do programa " Grande Entrevista" da RTP1, conduzido pela jornalista Judite Sousa, sobre a interrupção voluntária da gravidez.
Assumindo-se pelo voto "Sim" no referendo de 11 de Fevereiro, o cientista esclareceu que preferia arranjar soluções para não haver aborto mas considera "inconcebível criminalizar as mulheres que o praticam, numa decisão que é sempre de grande sofrimento pessoal".

"Ninguém quer o aborto. Eu não sou a favor do aborto mas contra a criminalização", respondeu a Judite de Sousa, clarificando a sua posição.

Em defesa da descriminalização, Alexandre Quintanilha rejeitou argumentos radicais contrários, evocando que "não passaria pela cabeça de ninguém condenar uma mulher que praticou um aborto por homicídio premeditado, a que corresponde na Lei portuguesa 25 anos de cadeia".
"Por isso é que a lei considera que uma pessoa não é a mesma coisa do que um embrião", salientou.
Para o cientista, há uma evolução da complexidade do ser desde a primei ra célula que aparece como embrião e muitas dúvidas sobre o momento decisivo par a a formação da pessoa.
"A primeira célula que aparece como embrião é o resultado de duas célul as e obviamente que essas duas células são vivas e são humanas: a que vem do pai e a que vem da mãe. Não há vida humana partindo de qualquer coisa que não é vid a e que não é humana", disse.
Quanto ao período das 10 semanas, comentou que é por essa altura que começam a aparecer os indícios de reacções neuronais e que o embrião ainda está muito longe de ter muitos dos processos complexos de desenvolvimento.
"Durante muito tempo, dizia-se que a diferença entre o Homem e os animais era a capacidade de pensar, de raciocinar, de escolher. Isso nunca acontece dentro do útero e às 10 semanas estamos ainda muito seguros em relação a uma série de coisas que os embriões ainda não atingiram", declarou.
Alexandre Quintanilha recusou que a Ciência e a Religião rivalizem num debate que se tende a radicalizar sobre o tema.
"Tenho medo das certezas e, neste debate, nem a Ciência, nem a Religião , trazem respostas claras.
"Na Ciência, onde é que se decide qual é a altura? O aparecimento de um ser que parte de um ovo envolve um aumento enorme da complexidade dos sistemas que se estão a formar. Qual é o momento? É quando aparece a dor, os primeiros mecanismos neuronais a funcionar? As primeiras hormonas a serem produzidas? Eu não sei!", respondeu peremptório.
No campo da Religião, Alexandre Quintanilha socorreu-se de São Tomás de Aquino e de Santo Agostinho para recordar que também eles falavam "dos mecanismos da introdução da alma, da humanização do feto", questionando quando é que tal acontece.

"Tem muito a ver com convicções e bom senso e com a noção de saúde pública", concluiu.
A entrevista pode ser vista por completo em:
01 de Fevereiro 2007