domingo, fevereiro 04, 2007

Grande Entrevista - Alexandre Quintanilha


Ciência e Religião sem respostas claras sobre o aborto, afirma Alexandre Quintanilha

O cientista Alexandre Quintanilha considerou hoje que "nem a Ciência, nem a Religião" têm "respostas claras para o debate sobre o aborto", situando-o no plano das "convicções".

Físico e biólogo, Alexandre Quintanilha é director do Instituto de Biologia Molecular e Celular (IBMC) do Porto e foi o convidado de hoje do programa " Grande Entrevista" da RTP1, conduzido pela jornalista Judite Sousa, sobre a interrupção voluntária da gravidez.
Assumindo-se pelo voto "Sim" no referendo de 11 de Fevereiro, o cientista esclareceu que preferia arranjar soluções para não haver aborto mas considera "inconcebível criminalizar as mulheres que o praticam, numa decisão que é sempre de grande sofrimento pessoal".

"Ninguém quer o aborto. Eu não sou a favor do aborto mas contra a criminalização", respondeu a Judite de Sousa, clarificando a sua posição.

Em defesa da descriminalização, Alexandre Quintanilha rejeitou argumentos radicais contrários, evocando que "não passaria pela cabeça de ninguém condenar uma mulher que praticou um aborto por homicídio premeditado, a que corresponde na Lei portuguesa 25 anos de cadeia".
"Por isso é que a lei considera que uma pessoa não é a mesma coisa do que um embrião", salientou.
Para o cientista, há uma evolução da complexidade do ser desde a primei ra célula que aparece como embrião e muitas dúvidas sobre o momento decisivo par a a formação da pessoa.
"A primeira célula que aparece como embrião é o resultado de duas célul as e obviamente que essas duas células são vivas e são humanas: a que vem do pai e a que vem da mãe. Não há vida humana partindo de qualquer coisa que não é vid a e que não é humana", disse.
Quanto ao período das 10 semanas, comentou que é por essa altura que começam a aparecer os indícios de reacções neuronais e que o embrião ainda está muito longe de ter muitos dos processos complexos de desenvolvimento.
"Durante muito tempo, dizia-se que a diferença entre o Homem e os animais era a capacidade de pensar, de raciocinar, de escolher. Isso nunca acontece dentro do útero e às 10 semanas estamos ainda muito seguros em relação a uma série de coisas que os embriões ainda não atingiram", declarou.
Alexandre Quintanilha recusou que a Ciência e a Religião rivalizem num debate que se tende a radicalizar sobre o tema.
"Tenho medo das certezas e, neste debate, nem a Ciência, nem a Religião , trazem respostas claras.
"Na Ciência, onde é que se decide qual é a altura? O aparecimento de um ser que parte de um ovo envolve um aumento enorme da complexidade dos sistemas que se estão a formar. Qual é o momento? É quando aparece a dor, os primeiros mecanismos neuronais a funcionar? As primeiras hormonas a serem produzidas? Eu não sei!", respondeu peremptório.
No campo da Religião, Alexandre Quintanilha socorreu-se de São Tomás de Aquino e de Santo Agostinho para recordar que também eles falavam "dos mecanismos da introdução da alma, da humanização do feto", questionando quando é que tal acontece.

"Tem muito a ver com convicções e bom senso e com a noção de saúde pública", concluiu.
A entrevista pode ser vista por completo em:
01 de Fevereiro 2007

Sem comentários: