terça-feira, novembro 14, 2006

Um Congresso que de apagado teve muito pouco

Artigo de Opinião no Jornal Oeste Online

Algumas vozes exprimiram numa antecipação errónea uma ideia completamente contrária sobre aquilo que foi verdadeiramente o XV Congresso Nacional do Partido Socialista. O conclave, que para alguns teve muito pouco para acrescentar à história do PS, foi em minha opinião um grande momento para discussão do trabalho realizado a nível governativo mas também teve espaço para olhar o pensamento ideológico do Partido. A despenalização da interrupção voluntária da gravidez rivalizou com a avaliação do trabalho do PS no Governo nos temas mais discutidos na reunião magna dos socialistas em Santarém.

Pode-se dizer que José Sócrates saiu de Santarém com uma aprovação esmagadora do PS face às políticas postas em práticas no Governo mas também com um voto de confiança do Partido para a implementação de algumas medidas que explicou no decorrer do Congresso: a aposta na educação de excelência, prometendo ainda mais mudanças no sector, alargando ao ensino superior as acções já concretizadas na matéria de educação; o aprofundamento do projecto europeu, uma maior cooperação europeia com o continente africano e uma verdadeira aplicação da Estratégia de Lisboa, são os pontos que serão abordados na presidência portuguesa da União Europeia; e por último, o anúncio do esforço do Governo em aumentar de forma mais ambiciosa o salário mínimo nacional até 2009.

A discussão à volta da despenalização da interrupção voluntária da gravidez atingiu o ponto alto quando Sócrates respondeu a Helena Roseta e a Manuel Alegre, dizendo que a despenalização ocorrerá apenas se o sim tiver mais um voto que o não, em contraposição com a opinião destes últimos que assumiram que o PS deveria legislar no Parlamento a despenalização, em caso de o referendo não ser vinculativo ou em caso de o não vencer. Mas também o Secretário-Geral da JS, Pedro Nuno Santos, na intervenção que fez durante a tarde de Sábado, apelou para o empenho dos socialistas na vitória do sim no referendo e que esse deveria ser o espírito do PS. Ainda sobre este tema, Sócrates referiu, com razão, que “em democracia ninguém pode estar convencido antecipadamente que vai ganhar. Partimos para este referendo não com a certeza da vitória, mas com a certeza de que esta causa merece a vitória”.

Concordo pessoalmente com Sócrates e com Pedro Nuno, porque não podemos partir para a luta com cenários de derrota ou com estratagemas de formas para subverter as regras do jogo democrático a meio caminho, muito menos pensar que está ganho, desmobilizando o eleitorado. Ao PS, à JS e aos defensores independentes da despenalização apenas resta a opção de convencer os portugueses acerca dos benefícios da vitória do sim no referendo e tudo fazer para que essa opção seja legitimada nas urnas e apenas nas urnas.

Quanto à restante intervenção do Secretário-Geral da JS, em que este referiu os problemas da população jovem na sua emancipação, nas dificuldades que tem para adquirir habitação própria, na grande problemática do emprego jovem – os falsos recibos verdes e a existência de estágios não remunerados – sem dúvida, juntou-se às intervenções que obtiveram maiores aplausos do Congresso na tarde de Sábado, obtendo inclusive o reparo de Almeida Santos “com uma juventude destas podemos estar descansados quanto ao futuro”.

De resto, há a referir o espírito aberto e corajoso de governantes como Correia de Campos, ao explicarem as suas opções políticas. Mas acima de tudo ficou claro que o rumo do PS é mesmo modernizar o país e que ser de esquerda é salvar o serviço nacional de saúde, é salvar o sistema de segurança social, é criar emprego e atrair investimento, é mudar o país e torna-lo mais competitivo através de uma formação e educação para todos e de qualidade. Ser do PS e ser de esquerda é dar um rumo de futuro a Portugal.

Tiago Gonçalves
Coordenador Concelhio da JS de Peniche
Secretário Federativo Distrital de Leiria da JS e do PS

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